Condução Noturna

Encosto a cabeça no vidro

achando que ali terei algum apoio

olho pro ambiente no reflexo,

um borrão pelo vidro.

Me interessa ver aquilo la fora

como uma parede negra viva

puxada pelos fios de luzes dos postes

procurando alguma coisa que não sei achar

E me pego só, pensando,

Os fios de luzes puxam a parede mas rápido

a paisagem da noite ja é pensamento

e talvez haja algum lugar que eu pertença;

e talvez em algum lugar possa ser alguém de fato.

A noite vai terminando

pessoas levantam e sentam ao meu lado,

mas enfeitiçado pela paisagem da noite

que vai pelos-fios-de- luz dos inúmeros postes

pouco me importa quem se vai.

Passo a fronteira dos seres viventes

e penso como seria a vida se eu não houvesse

Voltando a olhar os vivos uma campainha faz alguém descer

A parede se torna paisagem parada

Fios tornam-se luzes outra vez

Então vejo ao meu redor,

pessoas diversas que não quero estar,

As luzes do coletivo se confundem com suas sombras

volto então pra o som na minha mente

olho a passagem ganhando velocidade

Penso então que em algum lugar faça a diferença

E que talvez ainda possa ter esperança.

Não percebo onde estou

Fico pensando nos "e se..."

Mas a parede negra com seus fios puxantes

Me torna a realidade de que não posso correr

Encostando a cabeça no vidro

Melodia na mente, e sem esperanças

fico no "apenas se..."

E que talvez tudo seja assim mesmo...

Passa então tudo ao meu redor,

girando ao instante que os fios de luzes se misturam a noite

Madrugada que inicia sem uma resposta

As luzes da idade afloram minha impotência

E talvez em algum lugar eu acompanhe minha mente

E talvez nesse lugar eu possa ser um ser humano.

A velocidade vira a esquina

Logo o meu ponto de chegar se abre a frente

Relembro que onde chego nada é só meu

Apenas as ordens e constatações.

Imagino, um lugar chamado Esperança.

Que nesse lugar eu possa estar em paz