Chega!
Aquela poesia agora
não tem mais hora,
tem outras palavras,
outras passagens,
outras bobagens,
outras paisagens,
outras ideias de si mesma,
outras abordagens.
E atraca em porto inseguro,
depois de vagar por distantes
e perigosos mares,
de se perder em todos os lugares,
porque são asas em meus calcanhares
e este voo absurdo sempre foi poesia,
este mergulho no abismo escuro...

Aqueles amores perdidos?
Perderam-se!
Aquela solidão indesejável?
Resolveu-se! Ela fica...
Aquela tristeza cortante?
É só o cimento entre tijolos
das paredes do momento.
Àquela esperança irreal
eu nunca fui muito fiel,
nunca gostei dela,
partiu ou morreu, nem sei...
(fui eu, talvez, que a matei)

E continua a mesma
A minha sina, a minha sorte,
minha vida, minha morte,
minha falta de fé, pois é,
e a dúvida do que é, nem é,
na certeza de que não é,
tudo quase...
E continuo na mesma
a estrada, a jornada,
a rápida guinada,
a granada detonada,
a terra encantada
e a cidade arrasada,
trocando tudo por nada,
com essa cara lavada,
de muito metido a besta!

Modéstia?
Tenho alguma,
mas não acho...
acho que mantenho
essa indefectível vaidade:
os meus defeitos podiam ser melhores,
minhas dores bem que podiam ser piores
e meus dilemas até que seriam maiores
nos pormenores.
Só que em mim, nos arredores
tudo parece tão perto,
tudo parece tão deserto,
tudo parece provável
e passível de um distante infinito,
tudo até que parece possível
e sofrível de algum toque bonito,
porque tudo parece mesmo bonito,
mas é só aquilo perdido num grito,
é só mais um esquecimento,
da vida, este tormento,
da morte, este momento,
de um esplendor tão factível,
impossível, real, infinito...
Mas tudo é tão incrível
e de bonito só havia este grito!

 
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 14/12/2013
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T4611550
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