Sobre o Sofrimento
Sofrer é algo que parece inerente ao ser humano. A vida, na verdade, é uma luta para dele escapar. Mesmo esta tentativa pode estar fadada ao malogro uma vez que a própria tentativa já é, ela mesma, um sofrer. Diversos são os motivos do sofrimento: uma dor, uma angústia, uma ausência. O pior deles, porém, a saudade. A distância faz aumentar a necessidade do ausente, da pessoa ausente. Esta ausência, latente no peito, vai tornando-se insuportável a cada momento que passa. Não há como dizer dela, não há como expressá-la. Se quem nos escuta diz algo, esse algo inalcança o sentido profundo do que sentimos. Chego a pensar que é como estar sozinho para sempre, viajando entre estrelas perdidas eternamente no espaço. A solidão do sofrimento só a entende quem sofre, quem a vive. É contraditório dizer isso, mas sofrer é viver a morte. É distanciar-se de si mesmo, é cantar uma canção onde cada nota é um punhal no próprio peito. É voltar-se para si mesmo e não se encontrar em casa. É beber um vinho amargo, saboreando a borra que se assentou no fundo da taça. É inebriar-se deste vinho sem que ele aqueça o coração. Sem que ele traga alegria. É sentir na garganta que este vinho desce cortando cada milímetro do estômago. Sofrer e amar são sinônimos. Quem prova este sabor nunca mais se sente em si, estará sempre por chegar, estará sempre por sair. Estará sempre em trânsito, num entre-lugar, estrangeiro para si e um estranho em sua própria casa. Não divisará fronteiras, mas terá espaço limitado. Só não será limitada a imensidão do seu sofrer.