Devaneio literário-rudandista

Abro essa página para escrever qualquer coisa que vem à mente, pois acredito que me encontro num quase pré-estágio de inspiração criativo-literária. Obviamente nada comparado a qualquer escritor que já tenha o dom da escrita inato sem demandar de situações ou ambientes inspiracionais. Mas um quase pré- estágio criativo já é o bastante para uma mera leitora descompromissada com a justaposição metafórica de palavras e pouca, quase nada, inspiração das clássicas musas.

A imagem da Musa é cabível para o meu estado, embora não seja de fato uma musa, mas sim um “muso”. O don zelo em questão é, insuportavelmente, a única coisa que consigo pensar agora. Lembro-me da música da Clarice falcão, “monomania”, porém ao invés de compor músicas, eu apenas escrevo pseudodeclarações com o gênero textual tão mesclado que se torna inviável a identificação do mesmo. E, claro, o destinatário e causador dos devaneios é sempre o mesmo, o mancebo seboso.

A primeira pergunta que cai de paraquedas em minha mente é: “ Por que ainda penso de forma tão insuportável (apesar do negativismo que a palavra carrega, entende-se “insuportável” aqui como algo positivo) naquele que já não é mais novidade nem se assenta na posição do que ainda está nos primeiros toques e palavras?” A verdade verdadeira é que mesmo depois de certo tempo, acomodação e costume com o Estranho ainda sinto os mesmo calafrios na barriga e o mesmo borboletear no estômago. Melação, eu sei. A incógnita levantada pelo meu cérebro é justamente “por quê?”. Subindo o grau de elevação extrema da melação, a partir de tais observações de meu próprio comportamento pude notar (observações sim, porque nos redescobrimos a cada dia por causa das observações mais atentas) que meus sentimentos já passaram de mera paixão momentânea, termo “redundantista”, para um nível mais elevado de desejo duradouro.

Amor é o signo mais adequado para tal sentimento, com seus perfeitos e complexos significantes e significados. Preciso reiterar que o mancebo seboso é a plena concretização do amor, entendido aqui como substantivo concretíssimo.

Como dizia Camões em um de seus sonetos, o amor é um paradoxo: “Fogo que arde sem se ver/ Ferida que dói e não se sente/ é um contentamento descontente/Dor que desatina sem doer”. Obviamente não concordo com todos os paradoxos camonianos, assim como ninguém concorda com tudo que outrem discursa, pois se eu concordasse meu nome seria Luiz Vaz de Camões e não Juliana. Porém uso do mesmo conceito, amor paradoxal, para me expressar.

O sentimento supracitado é – hoje, em contraponto com o ontem- um desejo: irracionalmente racional, pacatamente agitado, pudicamente selvagem, comicamente sério, cientificamente literário, poeticamente prosaico, publicamente privado, friamente quente, parnasianamente modernista, Marxistamente capitalista, rudemente (ou rudamente) gentil, romanticamente realista, imperfeitamente perfeito. Enfim, AMOR.

P.S.

A palavra “seboso” está diretamente relacionada com o local que vende livros, o Sebo. É apenas no Sebo que encontramos aqueles livros raros que não publicam mais e muitas vezes são bem caros por serem únicos. Portanto, seboso é aquele que possui a qualidade de ser raro, especial e valioso.

(ALVERNAZ, Juliana Campos. Dicionário funcional das palavras e suas resignificações. Editora Perini. Paraná, 2032)

Kiva Alvi
Enviado por Kiva Alvi em 13/12/2013
Código do texto: T4609815
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