VAZIO

No fim da tarde

aqui no meio da praça

tanta gente passa.

No fim da tarde

aqui no meio da praça

há um imenso vazio.

Sinceramente,

já ando cheio desse vazio,

vácuo sem fim,

onde às vezes me surpreendo

a derramar o meu nada...

No fim da tarde

aqui no meio da praça

vez por outra me pergunto:

o que eu posso contra esse vazio?

No fim da tarde

aqui no meio da praça

há um não sei o que no ar

que me deixa deprimido.

Paro,

penso,

sonho,

caminho...

mas nada afasta esse sentimento

que diariamente me assalta,

no fim da tarde.

Em busca de respostas

olho para o sol que se esconde

(talvez fugindo do vazio do fim da tarde),

olho para o alto,

e para o céu que escurece rapidamente

(talvez para não ver esse vazio).

No ar – vazio – não há pássaros.

Um vento – vazio – vindo do mar

não me traz notícias

do meu amor impossível,

que se perdeu nos dias da juventude.

Estou no centro da praça

e tanta gente apressada

já passou por mim

em completo silêncio.

Assim,

fiquei só

na praça cheia

no fim da tarde

com esse imenso vazio

a me encher a alma...

(Belém, julho de 1969)