Amei um homem construído, como meus olhos o viam.
Confiei que o conquistaria com sinceridade e poesias.
Esperei por ele uma vida quase inteira, 

que se passou pesarosamente em anos de espera em silêncio.
Cheguei ao cúmulo de pensar que eu não o merecia,
que a culpada era eu por não ter sido a perfeita utopia.
Degradei meu mundo sozinha, com conjecturas que
jamais foram por ele confirmadas.
Analisei meu peso, minhas medidas, minha idade,
procurando defeitos, ficando até complexada, achando
até que ele me ignorava por eu não ter o dinheiro, que
é o amor que ele tanto idolatra.
Hoje constato a evidente realidade:
Ele não supunha alguém amando-o sem querer nada em troca. 

Pessoas que não amam não sabem o que é ser por outra desejado. 
Afinal ele foi homem por mim inventado.
Agora entendo as fugas, as lacunas.
Foi um protótipo, um abjeto projetado.
Enquanto cicatrizo a dor no peito, 

ele continua sua rotina,
como se eu jamais tivesse existido.
As poesias enviadas?
provavelmente jogadas no lixo, 

o lugar onde com certeza essa que envio, 
também vai fazer companhia.
Ele não pode deixar vestígios de algo que não viveu.
Enquanto isso, constato:
É fluxo natural água transformar-se em iceberg.


Railda
Enviado por Railda em 10/12/2013
Reeditado em 22/01/2016
Código do texto: T4606961
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