Filme mudo sem legenda.
O tempo é lento, o ar é pesado.
É o calor do verão, a necessidade do adeus.
Sufoco.
É preciso partir, cruzar a porta, mas falta jeito.
Ou talvez remediar. Tentador.
Pedir tempo, mentir um futuro, pôr o orgulho à prova.
Quem arrisca?
A boca se abre, a língua ameaça, mas segue o aborto.
Os olhares se cruzam, vê-se no fundo deles a expectativa recente.
Mas é só silêncio. Culpado silêncio. Estúpido, frustrado, adulto, protocolar, o racional silêncio.
Um filme mudo sem legenda.
Alguém se levanta. Não adianta, é preciso partir. Alguém tem de partir.
Mas falta jeito, falta coragem. A mutilação sem corte, o sangrar para dentro.
Alguém tem de dar o arranque em mais uma nostalgia de horas(e horas e horas) futuras.
Alguém tem que dar as costas. Alguém precisa passar pela porta.
Alguém.
E quando ele sai pela porta ainda está sufocado, é a necessidade do adeus, o calor pegajoso sobre a pele.
O silêncio o põe surdo. Ainda não há legendas.
Ele, de carne e desejo, caminha. Se espreme entre os segundos(lentos, já parando). Se concentra pra não perder o passo.
O chão vai mole ou são as pernas, não sabe. O corredor não parecia tão estreito, o coração não parecia bater tanto assim.
Ele, de carne e desejo e nós, tantos nós. Fins que se ligam a inícios, curto-circuitos imprevistos.
O destino brincando de amarrar pontas improváveis. Nós, confusos nós. Coisas que nunca aconteceram e que são sentidas como se infinitas.
Ele, vacilante, coração adolescente há tanto tempo. Ainda vermelho, ainda apaixonado, ainda sublimado.
Ele que caminhou porta a fora querendo para sempre voltar.