[O pactário]

Sim, eu sou um pactário, e o sou desde os tempos em que li o livro de São Cipriano! Naquela época, o pacto incluía a entrega da alma, mas em troca, eu podia ficar invisível e entrar, de graça, no cinema! E o negócio era bom para mim, pois eu, que já começava a me livrar do capacete dogmático da religião, desconfiava que não tinha alma, e assim, o Demônio era ludibriado pelo mineiro esperto aqui!

E, não existindo, como de fato não existe, alma não havia perigo: era só ir para uma encruzilhada e esperar aparecer aquela porca arisca acompanhada de pintinhos, ou a galinha braba acompanhada de leitões — formas costumeiras que tem o Demônio impressionar a gente!

E hoje em dia, quando vi que tudo virou nada, que a vida é mesmo uma berdamerda seca, uma reseca muerte, eu fiz outro pacto com o Demônio — com o Demônio só não: com Ele e com todos os tipos dantescos de demônios pertencentes à Legião ["por que somos muitos"] que como eu, amam sair às ruas nas horas mortas da noite — por esse novo pacto, diferente, pois não envolveu troca e nem compromisso, nem promessa de Ele me enviar mulher bonita, nada...

Nós, o Demônio, a Legião, e eu movidos pelos mais puros sentimentos, e por amor aos odores suaves que há no mundo, juramos ódio eterno ao alho e à cebola!

Para nos espantar, para nos fazer correr, sumir

de vez da área, basta apenas nos mostrar traços de alho ou de cebola!

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[Desterro, 02 de dezembro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 03/12/2013
Reeditado em 07/12/2013
Código do texto: T4596314
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