A ARVORE DA DOR
Eu plantei a árvore da dor...
E Deus! Como ela cresce, se enverdece, se expande!
Que exuberante vida ela tem:
Tem em si a força de um gigante a alimentar-lhe a seiva,
Cresce decidida, de hora em hora, da noite para o dia.
Sua enormidade, sua sombra assusta, seus espinhos envenenam.
Na planície, com sua grandeza, ela reina.
Em torno dela toda a vegetação morreu à mingua do alimento,
Que suas raízes profundas exauriram do chão.
Não há oxigênio que lhe baste,
Ela cresce para o buscar cada vez mais alto,
E a tudo abafa, exclui, destrói com sua magnificência.
Logo a florescência irromperá dela;
Seus frutos amargos lançarão sementes,
Perpetuando em sua messe,
A seara do sofrimento.
Eu plantei a árvore da dor...
Vendo-a pequenina, podendo contorna-la com as mãos,
Julguei conte-la com minha vontade,
Domina-la, reduzi-la...
Antes que se tornasse esse monstro absoluto,
A semear ruinas.
Eu plantei a árvore da dor...
Devo derruba-la antes da estação
Das sementes e mudas.
Tomo do meu machado:
Ela me fita desafiadora na sua enormidade;
Lanço-me contra seu tronco em desatino.
Golpeio, firo, corto.
Contra ela arremeto meu instrumento,
E minhas estocadas,
Dela fazem fluir a resina pegajosa,
O fio do aço retira lascas de seu troco inerme,
Mas sua gigantesca fronde respira os ares da eternidade.
Dentro de mim cresce o furor... e ela ainda cresce;
Apesar dos golpes meus,
Domina-me do alto de sua majestade desdenhosa.
Ao contundi-la, firo-me em suas arestas,
Meus membros exaustos tremem de fadiga;
O sangue brota das minhas mãos feridas,
Lágrimas requeimam-me as faces;
Determinada prossigo, de arremesso a arremesso,
De golpe a golpe, antevendo o escarcéu de sua queda.
Eis que verga da altura, como uma torre abatida;
Logo se esboroará no chão a galhada densa,
Não mais obscurecendo a luz.
Mas pressinto nesse fim bem próximo, o meu próprio fim;
A avalanche do alto, ao se precipitar,
Me arrastará com ela à destruição;
Num breve instante minha consciência adverte-me:
Não escaparei à derrubada da árvore da dor,
Sucumbirei ao peso de sua imensidão esmagadora,
Da minha criatura, serei irmã na morte.