Náiade
A natureza,
A proeza de ser
De tecer as sendas,
De penetrar as fendas
O prazer em verter o vento,
Soprar o canto,
Regar o encanto,
Vergar o vime que retesa o tempo...
Sonhos brandos,
Fádicas lendas,
Uma teia vívida de ser
Sempre alento,
No bojo do cântaro
De ser atento
Ao bater de bigorna, elevado,
Distante e tão lento...
O aroma na soma
Das sombras no sobrepor,
Sonidos bisonhos, besouros,
O lufar nas folhas imenso
Avisa o atraente frescor,
Ativa a essência despida
Da flor-pinho de incenso...
O recanto mago,
Ao largo da trilha oculta,
A escuta do estalar de gravetos
Talos secos, relvas úmidas,
Húmus, sumos, podres espetos...
E o latente piar de dolentes,
O desaguar solene incessante
Murmúrio nas pedras dormentes
Oh, Ninfa das águas, fontes, lagos e rios!
Que percorre as selvas, os leitos sombrios,
As tocas escuras, cavernas, cisternas,
E o solo amargo, árduo, roto, febril!
Oh, Ninfa do ciclo incansável das águas!
Que percorre céus, terras e mares
Que lapida pedras cortantes molares
Que leva a seiva aos ramos rebentos
E rola seixos, pedregulhos tão distantes,
Cede teus seios fartos, macios, suculentos
Molha e adoça raízes, bicos, lábios sedentos...!
(dfholanda, Aclimação, nov2013)