Depósito

Abro uma caixa e coloco meu berço, desmontado, em pedaços. Branquinho, como eram meus sonhos. Fecho-a e encerro um capítulo.

Abro outra caixa e coloco minhas bonecas, decabeladas. Coloridas, como eram meus dias. Lacro-a e encerro outro capítulo.

Abro mais uma caixa e coloco meus livros, organizados. Amarelados, como eram minhas manhãs. Envolvo-a com fita e encerro mais um capítulo.

Abro agora a maior caixa, e nela coloco meus diários, fotografias, maquiagens e CDs, que disputam espaço com romances esquecidos, erros perdoados e sonhos não realizados. Vermelhos, como a paixão que eu sentia em acordar para um novo dia. Cerco todas as laterais dessa caixa para que nada escape, mesmo sabendo que estou encerrando este capítulo para começar um novo.

E deixo o rio levar minhas caixas para onde sua correnteza decidir.