INTERROGAÇÃO
Pergunto de onde vieste,
de que astro errante tu caíste,
bem diante dos meus olhos espantados?
De que semente agreste tu brotaste,
planta de lianas envolventes e vicioso veneno,
para prender-me no abraço fatal
do teu malefício?
De que pássaro raro tu roubaste
o dom desse canto
que me corrompeu os ouvidos d'alma?
De que sonho meu te criaste,
para profundamente te entranhares,
na minha carne, meu sangue, meus fluidos?
De que sortilégio fostes feito
para derrubar-me o rigor, quebrar-me a vontade?
Tu, caminho sem termo onde me perco,
tu, abismo, onde me precipito e trágica vertigem,
tu, irremediável loucura,
tu, interrogação muda,
pungente e inexorável,
diante do meu ser despedaçado.