No fim de tudo tu não estarás aqui...
Não serás mais rápido que a morte, e, ao te lembrares de mim (se é que te lembrarás), darás de ombros antes de sentires algum peso, algum remorso hipócrita, que sei, não durará mais que alguns minutos. Então levantarás a cabeça e seguirás. Porque fomos perdendo tudo, o tudo do nada que fomos e tivemos, para esses silêncios aos quais nos entregamos. Eles sim tiveram tudo de nós, sugaram tudo de nós, e nós permitimos, por distâncias de tudo o que sonhamos e não tivemos.
Os braços não esticaram o suficiente dentro de nossos comodismos.
Já disse que odeio os "ismos"? Pois é... odeio os "ismos". Não conheço nenhum ismo que preste.
No fim de tudo tu não estarás aqui...
E terei de levar a saudade dos momentos que pensamos em passar juntos. Dos beijos não dados, dos sorvetes que não tomamos, das noites em claro em que não velei teu sono, das marcas de amor que não tatuamos nos corpos um do outro. Sentirei saudades de suas brigas na hora de sair e eu ainda na frente do espelho tentando ficar o mais linda possível pra ti. Sentirei saudade dos seus olhos percorrendo meu corpo minuciosamente enquanto minhas mãos se perdem no seu, sem nunca quererem se achar...
Sentirei saudade das coisas simples; dos nossos jogos de cartas, dos banhos juntinhos, das guerras de travesseiros, dos sorrisos bobos, dos passeios de mãos dadas e todas as datas que infelizmente a vida nos impediu de compartilhar.
No fim de tudo tu não estarás aqui...
Eu estarei aninhada com a solidão em profundo silêncio. E meus olhos estarão procurando... suplicando para todos os cantos do quarto por um estilhaço, por uma dor latente, por uma tristura qualquer !
Qualquer coisa que me faça sentir que eu ainda esteja viva !
Na esperança de que, ainda que por breves momentos, eu seja poema em suave brisa em teu pensamento.
Denise Matos