A DIVA DA MÚSICA
A flauta doce beija o desejo, que é todo apenas música. E o som juvenil vai espargindo uma lufada lânguida, preguiçosa. No espiritual do poeta o canto quase surdo toma corpo: um tênue abraço (suspira!) num olhar de esguelha à procura de aprovação. Os gestos e o som são estrábicos, excludentes: a dolente música exclui qualquer nexo. E o condenado ao belo percute o ritmo incompleto (e mudo) do poema dentro de si. Palavras somem em meio às claves de sol num ligeiro fôlego. O som leva o passeio de olhares a um voo de borboleta. Dois poemas vivazes: um no papel e outro na garganta úmida. Permanece a falta descompassada do abraço: o swing vivo que se faz dança nos lábios. Permitir-se mais além do toque, numa outra clave que não seja (ao término) apenas lâmina...
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4577818