O triste fim de um poeta
No rádio velho toca uma canção que me faz lembrar você, volto no dia em que te conheci... Em uma linda tarde de sol, reunidos pelo destino, talvez. Seus olhos tímidos cintilavam em ver tanta coisa em comum. Músicas, ideologias... O meu em corpo de mulher. A verdade saltava dos olhos cada palavra, uma conquista em cada segundo.
Eu, acometido pelo fato de me deixar levar por quaisquer coisas, me encantara fácil, já não estava mais em mim. Os dias passando, sua imagem surgia nos momentos em que eu menos esperava. Lá estava você, me fazendo lembrar entre risos algo bom que dissemos um ao outro. Lembro-me que num dia desses acordei no meio da noite, acabava de despertar de um sonho lindo, lindo por ter você como protagonista. Mas o sonho? Outrora talvez...
Perguntaram-me se eu havia enlouquecido ou se era doença contagiosa; não soube responder. A dúvida tomou conta de mim. Seria loucura enlouquecer, mas no auge dessa vida minha, louco seria aquele que não enlouquecesse por ver-te frondosa e formosa como tu és. Seria louco quem não a admirasse; as palavras se perdem numa tentativa inútil de explicar o inexplicável, definir tal cousa ardente no peito, quase faz desviver com ardor de tal cousa. Desviveria se preciso fosse, exaltaria, oh flor de formosura, a musa dos olhos de um simples poeta, perdido talvez, por não organizar em palavras o que arde em seu peito. Perdido por não conseguir dizer em belas formas, ritmando, como fazia os parnasianos.
Este poeta talvez fique frustrado por não ter o dom parnasiano, talvez por... Talvez pelo... Perdera-se o dom de abrir o coração, a modernidade chegou arrancando-nos à força o dom de amar. Talvez por isso as palavras não se encaixem, nem os sentimentos saltem do peito, pulando no papel, como Bilac fazia, por exemplo... Este é o triste fim de um poeta, deixando palavras escorrer por entre os dedos, se perdendo, com o coração em chamas e na mente uma lembrança apaixonante...