NOITE AFORA

E fico mudo, sem palavras, diante de tanta beleza posta na mesa da poesia... feito fruta madura framboesa... um gosto de mato... de araçá azul... um pintassilgo pintado de anil... um jogo de amarelinha sem céu e sem inferno... primavera sem inverno... chuva torrencial de emoções, outonos relampejando por aqui... e eu bebendo as taças dessa madrugada servida em cores licores de puro frenesi... jenipapo tá no papo... e fico de papo pra lua mirando a solidão das horas batendo ponto no canto maluco do relógio sem cuco... poesia de orvalho vem chegando... e até os galos ficam mudos e se deixam encantar... pois só a beleza da prosa poética pode cantar... e fere a madrugada o pincel fino da palavra.. de quem sabe pintar o vento com as cores doídas das saudades de tudo e de nada... aos insones, resta apenas beber de um só trago o néctar da solidão... e depois cantar milongas de fazer dormir o coração... acho que meu trem de ferro saiu do trilho... e restou, apenas, o apito agudo da maria fumaça com seu melancólico estribilho: noite afora, vou me embora... noite afora, vou me embora... noite afora, vou me embora...

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(Para o Tony Bahia... viajei no seu último texto... Madrugada Insone; e para Kathleen Lessa que o inspirou.)

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4561733

José de Castro
Enviado por José de Castro em 10/11/2013
Reeditado em 10/11/2013
Código do texto: T4564422
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