Tempos de Índio

quis ser índia

banhar-me nua nas águas do rio

dançar descalça

rir faceira dia a menor surpresa

sonhei em lançar mão

dos preconceitos culturais

em purificar-me

em fundir-me no canto das aves

em atravessar os espinhos , a morte

em desfazer-me das amarras...

Um dia fui índia

senti um pouco de fome

um sol muito quente

uma sombra ligeira

o gosto da fruta a escorrer queixo abaixo

lambuzei-me da graça das siriemas no cerrado

Um ano inteiro não assisti TV,

não ouvi as notícias,

não li os jornais

Um ano inteiro eu vivi

intensos aromas, sem sabonetes

sem desodorantes

sem adereços dos homens brancos...

Um dia sonhei ser livre como a capivara

correr não de medo mas de alegria

dançar reverenciando o amanhecer

muitos dias vivi tal qual sonho de infância

e destes dias é impregnado meu ser

confesso

da terra dos homens civilizados não tive saudades

Agora entre a branca e a índia de mim

ressurge a criança sem nome que às águas e matas se entrega

e dança com toda gente sem muito entender

num desejo de a tudo amar e compreender.

virgínia além mar 2000

in

Edição Especial 19 de abril

http://vicamf.multiply.com/journal/item/138

Xavantes Notas de Viagem

http://vicamf.multiply.com/journal/item/34

virgínia vicamf
Enviado por virgínia vicamf em 19/04/2007
Código do texto: T456230