PEQUEBRADA VINGANÇA DO POETA FERIDO
Aprumo-me à cadeira, resoluto
Armado pra peleja, tenho a pena
Disposto a revanchar, absoluto
Menelau ou Paris em luta por Helena
Tolo aos olhos do amigo
Tonto pela ânsia do registro
Pasmo pelo prazer do castigo
Pena e pensamento administro
Sincero, me alcançou inerte
Lançou-me à face uma verdade
Pois também preciso que alguém me alerte
Que falsa poesia é auto-piedade
Mágoas ao calabouço !
Ele tem razão, é provável
Afinal, nada menos confiável
Que oscilar na rota corda à qual balouço
Desculpe meu amigo impaciente
Mas, é que o engenho me obriga
Prometo não amolar novamente
E assim escapo vivo desta briga
Sem ressentimentos, juro que sou capaz
Restou somente um lado bom
Passei a escrever em melhor(ou pior?) tom
Mais tolices, que prometo, não verás
Estultices, agora hemorrágicas
Dramas, comédias, as vezes trágicas
Séries, sequências, escalafobéticas
Jogos, trocadilhos, rimas quilométricas
Besteiras inúteis e mal engendradas
Mentiras torpes, fúteis, desconectadas
Falsidades bobas e leviandades
Acrósticos, códigos sem qualquer verdade
Idiotices me vêm aos borbotões
Sorrio de mim mesmo e meus senões
Afinal, meter-me a recitar sermão
A tão vetusto e sábio varão ?
Só mesmo um bobo, tolo, sonhador
Pra acreditar tocar com devaneios
Um coração tão cheio de amor
Este teu amigo, não sabe outros meios
Perdoe-me, repito, se possível
Mas sou-te grato em demasia, acredite
Vou somente cuidar, com bom alvitre
Que não ouças mais sobre este hábito horrível