Viajando pra bem longe de mim
É o que mais quero nesse momento. Deixar cair no chão minhas letras mortas e as certezas que ficaram tortas, de não ser identificado pelo que disse ontem nem esperado para ser coerente. Só queria voar e não constatar mais posições. Também sem ouvir explicações alheias e não pedidas. Rasgar minhas poesias escritas por ter descoberto que elas já não voavam nem mais cantavam, viraram pedras surdas. Sim, quero viajar pra longe de mim e sem saber onde é o poente ou nascente, pois se eu soubera desses espaços então não estaria viajando, mas tão somente indo ao bar da esquina e revendo as velhas caras mortas. Viajar sem jejuar e sem rezar a reza comum e batida que sufocou a esperança. Quero ir sem malas e sem passaporte num país sem língua e sem bandeira, que não me olhem ao passar, assim como se faz com um vento leve, mas que o sol ainda assim me conserve vivo para que eu possa em silêncio falar com os pássaros e com as nuvens, para quando uma folha cair da árvore eu possa consolá-la perguntando: Coitadinha, machucou? Poder perguntar ao riacho se ele está cansado de tanto correr. E só terei a certeza que finalmente consegui viajar pra bem longe de mim quando nessas minhas novas lidas escutar prazerosamente um passante gritar: Lá vai o doido!