Dramática não, poética.
Depois de tanto nadar a gente morre na praia, e ao invés de água, lástima. Foi o que restou. E depois de ter nadado tanto em mágoas ou lágrimas, palavras usadas como faca, seja lá no que nadei, aqui estou.
Lágrimas de estátua.
Todos nós viramos uma, uns mais cedo, outros mais tarde
com o passar da idade vamos endurecendo, nos tornando menos flexíveis nos músculos e ligamentos, mas também nos sentimentos. Nós por dentro continuamos os mesmos e aguentamos tudo e o tudo nos aguenta. Vivemos até que o que restar seja lágrimas sobre o cimento.
I
As estátuas da minha ficção cientifica não são feitas de mármore
e se fossem, não as compararia com pessoas,
o mármore poderia se sentir ofendido.
Cimento é do povão, mais simples
dizer que somos de mármore é muito fingimento
não agimos de forma tão elegante nem temos tantas cores
somos cinza-cimento
por causa das dores
(Mas até o concreto está sujeito ao polimento)
II
Ainda bem que não vão reprisar teu rosto no Vale a Pena ver de Novo.
Lembro de ficar conversando com ele a noite inteira
e, de repente, olhar para a janela à minha direita
ver o dia já ficando claro.
Hoje quando lembro até me surpreendo:
quem diria que eu provaria
tanto amargo
da noite pro dia!
III
Mas naquelas circunstâncias,
a sensação era de que a noite tinha valido a pena,
agora tudo o que se vê é a cena:
Eu. Protagonista dessa sala sem graça
sem ele. Ouvindo blues no momento
virando estátua,
morrendo na praia
e ao invés de amor, cimento.