Bom dia!!! vamos acordar no campo?
Ao acordar, passo quase que sonambulamente para a cozinha, água na simpática panelinha, filtro no coador em forma de chapeuzinho de festa de criança, que heroicamente se equilibra na boca da garrafa , ambos, tão inocentes á espera da água quente. Quente, mas jamais fervendo, como me ensinou certa vez, um barista. Me deixo perder o olhar entre o bem- te -vi que fora da janela canta e balança as fofas asinhas e aquelas minúsculas gotas mágicas que depois de um tempo, aparecem coladas na pele da panela, suor me parecem. Sim, ainda prefiro este tipo de café, calmo e tranquilo como meu amanhecer gosta de ser. Cuidadosamente apanho o cabo da panelinha e sigo até a garrafa sedenta, derramando a égua lentamente como um riacho na mata, e aí se dá a magia! o café sede sua alma a água, eles se fundem em meus olhos e aquela fumacinha com ar de neblina fluida, invade toda minha cozinha, meus olhos e adentra minha alma, avisando ao meu cérebro que o dia já nasceu.
Então abraço a xícara, pote quase sagrado de meus amanheceres, o negro e perfumado rio desce em cachoeira dentro dela, e meus olhos o veem brilhar estrelas. No primeiro gole, o amornar dos pensamentos, a leveza do aroma que me adentra narinas e neurônios, estômago e coração, vai me acordando um pouco mais...Hora das passaradas, de sentar em meu terraço e ver as peripécias do sol a acordar as folhinhas mais desavisadas, o sagui que seriamente passeia no seu galho com seu longo rabo a pensar, no que será que pensa ele?
Pela carinha séria de hoje, provavelmente pensa nas mais de dez prestações que ainda ha de pagar a Dona Preguiça, pelo seu belíssimo e raro fio de cipó, dia desses vi a negociação entre eles. Dona Sabiá gorda, canta e aprecia a paisagem, os passarinhos verdes e endiabradamente famintos comem gulosamente as bolinhas da outra árvore e gritam entre si, mas como gritam esses meninos! A rouxinol continua sua árdua tarefa de alimentar os filhotinhos e entra e sai da casinha a todo instante, certo dia ela comentou rapidamente comigo, que pensava seriamente em se aposentar! mas o Sr, Rouxinol não quer nem ouvir falar nisto, é um bom marido e sempre a ajuda apesar do trabalho matinal ser só dela.
Ah! Bom dia Dona preguiça! digo já de pé e finalizando meu delicioso café, agora, com um mínimo pedacinho de chocolate amargo, que derrete-se na minha língua tão devagarzinho que até parece carinho. Ela, como sempre exuberante e magnânima dona do pedaço, de cima do pé de embaúba, me pergunta se vi a lua ontem e me xinga quando digo que só vi de relance, fala que a noite foi tranquila e que a floresta anda muito feliz com o mais recente casamento do Sr. Tatu. Por fim, me despeço dela e entro. Afinal, ainda me resta meu próprio filhote para alimentar, e este além de ovos fritos, torradinhas, suco, frutas e leite. Adora uns flocos de fantasias que dão trabalho para fazer, mas que eu adoro nutri-lo, sempre.
Bom dia!
Márcia Poesia de Sá - 2013