[A sorte que o mundo tem...]
Alguma coisa do que já fui ainda me resta — resta a capacidade de criar ou recriar soluções.
Por vezes, resolvo um problema de rede, bug do Windows, ou falha dos computadores, ou, um probleminha nalgum equipamento da parafernália eletroeletrônica que, hoje em dia, infesta a vida da gente...
Nem me preocupo em registrar uma solução: se algum tempo depois, o problema se repete, a forma de resolver será outra, ou quase outra... Na minha memória, quase nada resta da situação anterior — sou forçado, pelo esquecimento, a recriar a solução que eu já implementara antes. Mas enfim, algumas cervejas depois, o computador está funcionando a contento!
Posso sim, criar, recriar, mas, decorar jamais! Mas. ultimamente, eu passei a temer que essa capacidade [de criar soluções], em breve, será perdida, em algum ponto da minha estrada...
Pena que a mesma coisa não acontece com os poemas! Estes são como pássaros rápidos: voam em relances na paisagem conjugada de imagens e palavras, que eu vejo, assim, no alto, à frente da minha cabeça... Essas criações precisam ter anotada uma mínima parte que seja para, num instante posterior, eu resgatar a memória da sensação que tive, e conseguir desfiar o texto. Se eu não fizer assim, os pássaros-poemas voam para o infinito, e perdem-se para sempre — é totalmente impossível recriar um poema, da mesma forma como recrio as soluções técnicas, ou os consertos em geral!
Visto assim, dada a enorme quantidade [e variedade] de pássaros-poemas que eu perco por não registrar em tempo, fico imaginando... que sorte o mundo tem! Se eu me lembrasse de tudo que voa diante dos meus olhos, a internet estaria ainda mais poluída de poemas e de textos como este aqui, por exemplo.
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[Ilhabela, 21 de outubro de 2013]