Numa noite qualquer

Um livro de Jostein Gaarder, uma agenda amarelada, canetas e uns óculos com lentes arranhadas. Tudo jaz sobre a cama. Tudo é paisagem morta enquanto ela mantém os olhos cerrados ao som de um rock leve da banda Catedral. A menina mulher que ali está já não sabe se aquilo tudo é real ou não. É como se houvesse uma conspiração manipulativa sobre si.

Há tempos não se sentia assim. Essa desconcentração total, essa vontade inócua de estar longe dali, ao lado de um alguém tão especial, capaz de despertar-lhe as mais prodigiosas sensações com simples palavras. A menina sorri. Em sua memória, lembranças dele. Das suas palavras. Dos seus trejeitos. De sua voz.

Um carro passa na avenida ao lado e a faz despertar de seus doces devaneios. Ela ergue-se a contragosto. Olha o relógio. Uma e quarenta da manhã. E nada de sono chegar. Levanta, faz um chá e deixa-se estar em frente à TV. Passeia pelos canais, mas nada lhe apetece. Nada que lhe prenda a atenção. Mas em sua memória, sim, ele ainda está lá.

Desiste da TV. Liga o computador, internet, facebook, Skype, jogos... Nem trinta minutos se passam e ela já está entediada. Mas que é isso? E-mail. Sim, ele passou por lá. Um largo sorriso toma-lhe o rosto e se põe, prontamente, a responder-lhe. Assim, seu coração pôde acalmar-se. E ele permanece ali, mais vivo que nunca.

Toma um banho frio. A água parece lavar-lhe até a alma, tamanha é a calma que se instala dentro dela. Fones de ouvido, ela se deita. Mas, e o sono que não vem? A presença dele a incomoda. Ergue-se, pega novamente sua agenda e põe-se a rabiscar versos descontextualizados, linhas, palavras soltas, obedecendo apenas a vontade do seu coração de escrever. Acalma-se por fim. Apaga a luz e dorme.

É dia. Abre os olhos e, obviamente, seu primeiro pensamento do dia é ele. Sorri. Enquanto toma café, relembra as palavras ditas por ele. Tudo passa-se como num filme, parece mentira. Enquanto arruma a cama, ela encontra em meio às cobertas a sua agenda. Lembra que escreveu algo antes de adormecer, mas não lembra o quê. Abre-a. lê:

“Em toda a minha vida, sonhei em encontrar um amor que fosse capaz de me compreender e me fazer sentir flutuar... Mas nem nos meus melhores sonhos cheguei a imaginar que pudesse ser tão lindo, perfeito e tão mágico quanto está sendo. Sua existência colore a minha vida, me enche de ânimo, de força, fé, alegria. Eu te amo e já não sei se ‘amor’ é a palavra adequada, porque este sentimento tomou dimensões que nem mesmo eu consigo compreender. Loucamente apaixonada por você!”

Milene Gomes
Enviado por Milene Gomes em 21/10/2013
Código do texto: T4534930
Classificação de conteúdo: seguro