As últimas horas da noite
Silêncio. Tão peculiar é o silencio da noite que se pode ouvi-lo sem nenhum esforço.
Envolve a alma, arrebata o espírito e acalma o coração. Tem o poder de interferir na razão e
deter o fluir da desesperança.
Toda a agitação do dia se desfaz em contato com ele. E a natureza nem ao menos se ressente ao se ver calada; o planeta todo pulsa, vagarosamente, porque já sente
o silenciar da madrugada, estranha melodia atraente induzindo a Terra inteira a ser silenciada.
Eis o silencio que domina a aurora e não tem a menor pressa de ir embora.
Não um silêncio comum, corriqueiro. Não a ausência do som... Mas um silêncio todo próprio, um vácuo de sonoridade introduzindo vibrações especiais, únicas.
E as ondas emitidas por elas espalham-se por todo canto da Terra, invadem sorrateiramente cada espaço que encontram, penetrando a intimidade dos átomos e interferindo na cadência da vida.
Eis o silêncio que chega e se faz notar de modo tão singular. Toda existência o reverencia. Todo o universo o reconhece. Como senhor da madrugada, interpela o ruído final da noite emudecendo-o com gentileza e eficiência... Irresistível é o silencio noturno, suave, harmonioso, que pulsa com tal delicadeza que instiga a percepção de leveza. E o gosto da liberdade invade docemente o coração, atiça a alma aprisionada nesta dimensão. Como pássaros, os mistérios esvoaçam na noite embalados pela maciez deste silencio que toma vulto sem materializar-se.
Eu que observo esta movimentação, deixo-me cativar, sem resistir o convite que me faz. O silencio é companhia envolvente encanta a alma docemente e lá se instala ocupando-a de vez... Estabelece intrigante relação entre a prudência e a insensatez.
Neste momento, ouço o sussurro dos desejos que me consomem, vontades tantas que se vergam perante a magnitude do firmamento; ilusões e esperanças recolhidas no correr do tempo, um cansaço angustiante que dispersa e tortura o espírito desatento.
Ah! Tanto silencio não dá conta de abarcar o pensamento e tenho a sensação de que vibra o lamento perdido em algum lugar...
Não ouso mexer-me... quebrar esse silencio é quase sacrilégio, pecado secular. Deixar-se possuir por ele, é privilégio, pois que traduz o cântico dos anjos, o murmúrio do Criador. Silêncio que faz calar o gemido angustiante que provém da dor.
E esse silêncio me envolve por completo, e por um segundo, penso que morri de amor!
Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenvolvimento de Pessoas