TODA AQUELA MULHER TEM A PUREZA (ÁLVARES DE AZEVEDO) - O HUMOR NA "LIRA DOS VINTE ANOS"

Toda aquela mulher tem a pureza

Que exala o jasmineiro no perfume,

Lampeja seu olhar nos olhos negros

Como, em noite d’escuro, um vagalume...

Que suave moreno o de seu rosto!

A alma parece que seu corpo inflama...

Simula até que sobre os lábios dela

Na cor vermelha tem errante chama...

E quem dirá, meu Deus! que a lira d'alma

Ali não tem um som — nem de falsete!

E, sob a imagem de aparente fogo,

É frio o coração como um sorvete!

(Obras, 1853, v. I, Lira dos vinte anos, 2ª parte)

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Pequeno poema não nomeado pelo autor, por convenção, o primeiro verso (primeira linha gráfica) torna-se o título da poesia, isto é, "Toda aquela mulher tem a pureza".

São doze versos divididos em três estrofes (conjunto de versos), rimando o segundo verso com o quarto verso.

São decassílabos (dez sílabas poéticas).

Vejamos a escansão (divisão em sílabas sonoras) dos quatro primeiros versos:

"To-daa-que-la-mu-lher-tem-a-pu-re-/-za

Quee-xa-lao-jas-mi-nei-ro-no-per-fu/-me

Lam-pe-ja-seu-o-lhar-nos-o-lhos-ne-/-gros

Co-moem-noi-tes-dees-cu-roo-va-ga-lu-/-me..."

Fala o eu lírico de uma mulher (amada, amante, amiga, sonho, realidade?).

É uma mulher pura.

Morena.

Olhos negros.

Lábios vermelhos.

Não há poesia em sua alma, e seu coração é frio como um sorvete!...

Nas profundezas textuais podemos entender que o jovem poeta (1831 - 1852) amou e não foi notado, mas, por parte do jovem, não existe mágoa, há uma lembrança do conjunto de qualidades de sua amada que nos lembram sensações positivas (sensualidade, calor, etc.) e depois negativas (indiferença, frieza, etc.) por parte de sua escolhida.

O poeta reclama que sua escolhida nunca notou sua presença.

Augusto de Sênior.

(Amauri Carius Ferreira)

(FERREIRA, A. C.)