Quase
Hoje, não falarei do sucesso. Não. Não estou amargurado ou triste. Digeri os fatos mais recentes, juntei aos antigos e aninhei na minha história. Falarei daquela sensação que antecede algumas tentativas e que é bem diferente do fracasso e, também, do sucesso. Sabe aquele sabor amargo, que surge um segundo depois da falha? Pois é... Falarei do “quase”.
Foram dez centavos que não completaram o valor do pagamento, dois passos que separaram do ônibus vazio, sete minutos do voo para casa, a vaga não vista e deixada para o motorista de trás, o aniversário esquecido do amigo do peito há apenas 3 minutos depois da meia-noite... São aquelas coisas que, por muito pouco mesmo, não aconteceram como deveriam segundo a nossa vontade, uma reles pretensiosa dona de um querer.
O “quase” está entre o “sim” e o “não” e bem longe do “talvez”. E nem me perguntem a distância de cada um, pois errarei por pouco! Mas, existe! É quando se vê a coisa na mão, mas escorrendo entre os dedos ou, um pouco mais longe que isso, derramado ao chão na sua frente. Pode ser também aquele sabor amargo que não se sabe se puxa ou deixa ali na boca mesmo junto à respiração encurtada e bem combinando com o olhar fixo e perdido.
É isso é um perder com cheiro de vice-liderança. Ninguém nunca se lembra do segundo lugar. Ah! Desculpe a minha falha novamente... Cheguei bem perto novamente da ideia. Apenas o vice lembrará para sempre de sua colocação independente do pódio e medalha, aquela a ser jogada num canto qualquer do quarto ou numa caixa do esquecimento de tralhas soltas.
Essa sensação de se ter chegado muito próximo, às vezes do lado de dentro de um sentimento e/ou uma situação, é angustiante. O esforço esteve ali a 1000%, mas o resultado foi 99,99%. Queixo-me?! Aí... Todos vêm com aquele discurso do “você conseguiu algo muito significativo e seja feliz”. Ou, pior ainda, “Todos dariam a tudo para estar no seu lugar”. Enfim, aquele amontoado de palavras banhadas num conformismo que muito mais me agridem do que me trazem acalanto.
Mas, há algo pior sim – vou ligar o pessimismo por alguns segundos dessa leitura e respirem fundo. O pior acontece quando esse “quase” está ligado a alguém. É que, depois do fim, não há colo, não há ouvidos, não há olhares marejados e nem a companhia que se lhe salva do mundo e de todos os outros “quases” que se tropeça todos os dias. É isso. O “quase” sem alguém para compartilhar num silêncio é duro. E estou longe de fazer o dependente afetivo, e antes que um psicanalista me aponte um livro de Freud contra minha negação. Mas, é o perceber alguém ir embora, literal e fotograficamente a frente, me faz sentir o quanto essa luta que é sair da cama pode cansar e nos puxar para baixo dos lençóis ou para baixo dela.
Eu sinto falta do 100% que é era feito de 50% somado a outro 50%; De um todo que nunca mais se completará com outra conta que o destino me fará contabilizar. É que o “quase” traz outra sensação que me finaliza aqui em texto e pessoa: o “e se...”. Quando imagino o que não aconteceu e, ainda assim, sinto uma falta hedionda.
Conseguiram me entender? Ou quase?