Canoa ao Mar
Canoa ao mar
O dia ainda não raiou, mas o vermelho no horizonte colore o céu e anuncia um dia cheio de nuances e de brilhos. É começo de dezembro, o calor já passa dos 27 graus. Ele caminha com calma até o rancho, prepara suas coisas, é um homem pequeno, magro e não aparenta força suficiente ao que se propõe. Arrastar uma canoa daquele tamanho até a água, sozinho parece impossível, mas logo percebo que a engenhosidade sobrepõe a força. Ele levanta a ponta da canoa e coloca embaixo dela um tronco de madeira, um cilindro sem nenhuma imperfeição, parece puxar o grande barco sem fazer força alguma, mais a frente coloca outro tronco e assim vai, ora um, ora outro e a canoa alcança a água rapidamente. Ele ajeita o chapéu de palha, dá uma última tragada do cigarro de palha, empurra a canoa mar à dentro e sobe nela em um pulo só. Em pé sobre aquele tronco flutuante ele rema contra as ondas, passa por elas com calma e cadência, parece um bailarino dançando sob as águas, ele e a canoa parecem um só ser, seu corpo se movimenta como o mar e assim ele atravessa a arrebentação sem que uma gota se quer entre. Seu cigarro ainda está seco.
Vai sumindo mar à dentro.
Contra a luz vermelha do sol nascente seu corpo toma agora a forma de uma suave sombra, o balanço do mar formar milhares de pequenos espelhos, côncavos e convexos, espalhando sol por todos os lados, albatrozes acompanham sua sombra, certos de que o banquete se aproxima e a silhueta do pescador vai sumindo rumo ao sol, a canoa toma o mar...