DINHEIRO (ÁLVARES DE AZEVEDO) - O HUMOR NA "LIRA DOS VINTE ANOS"

Sem ele não há cova—quem enterra

Assim gratis a Deo? O batizado

Também custa dinheiro. Quem namora

Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio?

Demais, as Dánaes também o adoram.

Quem imprime seus versos, quem passeia,

Quem sobe a Deputado, até Ministro,

Quem é mesmo Eleitor, embora sábio,

Embora gênio, talentosa fronte, Alma

Romana, se não tem dinheiro?

Fora a canalha de vazios bolsos!

O mundo é para todos... Certamente,

Assim o disse Deus—mas esse texto

Explica-se melhor e doutro modo.

Houve um erro de imprensa no Evangelho:

O mundo é um festim—concordo nisso,

Mas não entra ninguém sem ter as louras.

*”Oh! dinheiro! Contigo somos jovens, belos, adorados; temos consideração, honra, qualidades, virtudes. Quando não temos dinheiro, ficamos dependentes de todas estas coisas e de todo o mundo.” CHATEAUBRIAND.

Tradução: Coleção L&PM Pocket, nº 118, pág. 194.

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Poesia muito diferente de todas as outras de Álvares de Azevedo (1831-1852), segue outro “estilo”. O pequeno verso de Chateaubriand (Francois-René de Chateaubriand - 1768/1848 – escritor francês de romances e novelas) logo no início, diz sobre vantagens e desvantagens do dinheiro – tê-lo ou não?

Trata-se de uma estrofe gigantesca quando comparada as outras criadas pelo adorável poeta, são dezessete versos (cada uma das linhas gráficas) e não existem rimas entre eles.

São decassílabos (dez sílabas poéticas), vejamos a escansão (divisão em sílabas sonoras) dos quatro primeiros versos:

“Sem-e-le-não-há-co-va-quem-en-ter-ra

As-sim-grá-tis-a-Deo?-o-ba-ti-za-do

Tam-bém-cus-ta-di-nhei-ro.-Quem-na-mo-/ra

Sem-pa-gar-as-pra-ti-nhas-ao-mer-cú-/rio?”

Fala do seu bem e do seu mal.

Onde está o humor?

O humor está na maneira de como o tema (o dinheiro) é tratado, tão vil e tão importante ao mesmo tempo, e sua contradição, possibilitando coisas boas e também coisas más:

- Sem ele não há enterros!

- Sem ele não há batizados!

- Sem ele não há namoros!

- Sem ele não há festas!

- Sem ele não há mulheres!

- Sem ele não há romances!

- Sem ele não há poesia!

- Sem ele não há política!

- Sem ele só existe o nada!...

E assim o jovem termina o interessante poema e diz também que o mundo é uma festa, mas nela só entra quem tem dinheiro (“as louras”).

Augusto de Sênior.

(Amauri Carius Ferreira)

(FERREIRA, A. C.)