Para Ver Basta Uma Centelha



O poema é um texto cujas palavras são um roteiro para a alma.
Tudo misterioso. No processo de escrita não há certeza. Isto obriga a pessoa a continuar a desempenhar e fazer crer mesmo depois que um adulto já não se interessa em acreditar. Poucas pessoas sabem o que fazer quando suas crenças são destruídas. Há sempre um grande barulho humano para escutar. Ouvir um coração batendo a sua porta, ouvir seu próprio coração a bater, as pulsações da vida. Ouvir o coração de todos, como se fosse seu próprio coração.

Ficar sentado lado a lado do outro apenas escutando o barulho do silêncio de cada um. Sem um movimento sequer, a olhar a escuridão da matéria e os picos de luz que podem até ser as estrelas no céu. Um ponto de luz numa choupana no meio do vale, tão colorido de dia, mas na escuridão da noite nada se vê, a não ser um ponto luminoso.

Sentir que há um céu particular para cada um e que a escuridão da matéria é muito grande relativamente aos pontos de luz. Há muita coisa boa quando se sente o escuro, quando enfrentamos a sua verdade, a sua presença e a nossa insegurança, sem saber onde e como chegar, onde aportar, quando um abismo pode está muito perto e ser muito maior do que os já atravessados, em tudo isto há o saber da experiência a nos ensinar.

É assim que uma centelha tem seu valor, porque dá conta de iluminar alguma coisa ao seu redor. E só consegue isto porque há muita matéria precisando de luz, para finalmente emergir ao mundo perceptível consciente. É nosso trabalho decifrar com habilidade a nossa razão, em tempos de intermédio entre o grande outro (mundo) e o outro (ser próximo) para escutar tantos corações e finalmente traduzir o roteiro para a alma. Isto é o que se precisa ouvir para que os corações continuem batendo e assim fazer a todos acreditar, em sua própria humanidade mesmo depois que cada crença tenha sido destruída, tenha sido removida para a região escura da matéria.

E até que um dia consiga emergir de novo a nova luz, de uma nova crença, a espera...
O Silêncio que já aprendemos a escutar...
O tempo, senhor do amor supremo, faz renascer o sentido de tudo, o verdadeiro valor de se sentir vivo outra vez.
Um beijo num abraço para selar com o brinde dos amantes, onde toda felicidade passa simplesmente no lance dos olhos a sorrir.
Porque para se viver renascendo tantas vezes, é preciso morrer de vez em quando...

Prosa de Ibernise.
Barcelos (Portugal), 10OUT2013
Ibernise
Enviado por Ibernise em 10/10/2013
Reeditado em 11/10/2013
Código do texto: T4520039
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