A LEMINSKI
Na manhã de 08 de outubro de 2013
" minha mãe dizia
- ferve, água!
- frita, ovo!
- pinga, pia!
e tudo obedecia"
Paulo Leminski
Que faço de mim, poeta, que faço de mim que nada me obedece, nem o dia que pisca o olho levanta e dorme acordado o tempo inteiro, que faço que não me obedece o eu que acorda dormindo e dorme acordando e nada conciliante vive porque não distingue mais uma coisa de outra coisa, que faço assim analfabeta de saberes de mãe, de avó, de bisavó, de todas as antepassadas e também de quase todos os antepassados? Que faço, poeta, de mim? Que faço assim tão analfabeta de tudo e de mim? Ah, poeta, se eu "tivesse nascido um simples vaga-lume" ... podia ter nascido também quem sabe leque, migalhas de pão sobre mesa, cascas de laranja, folhas de outono sobre a relva... sei lá, poeta... qualquer outra coisa... outra coisa qualquer, não essa, não essa.
Abraço, poeta.