CANÇÃO DO ENTRISTECER
E do ressoar das notas
restou apenas a lembrança esboçada
das canções que ouvíamos juntos
nos dias em que as nossas vozes
se transmutavam em músicas.
O silêncio de agora enche o espaço de saudade,
que como uma serpente
segue envenenando as cifras que ainda ouço.
Não há antídoto,
apenas a certeza de que o vento espalhou todas as notas
e de que, neste novo arranjo, a harmonia se despedaçou.
Cato demoradamente no sótão sombrio da memória
a voz rouca do amor estremecido.
Nos sonhos partidos, encaro as rugas do despertencer
E, sem outra saída, teço a melodia que nunca será ouvida,
mas que acompanha a tristeza em sustenido das nossas faltas,
consumadas nas idas e vindas.
8/10/2013