Tulpstraat
Lembro-me que costumava passear por esta alameda o tempo todo quando eu ainda a tinha ao meu lado.
Ali onde está aquela construção dilapidada outrora se erguia uma bela bombonière, onde costumávamos nos empanturrar de chocolate e conversar sobre o que a vida tinha reservado para o nosso futuro.
Aquele outro prédio que se vê acolá, ocupado agora por mendigos e vagabundos, já foi o belo teatro onde segurei sua mão do começo ao fim da peça.
Lembro-me que um dia me sentei naquele banquinho de madeira atualmente destruído para desenhar seu retrato, enquanto ela posava para mim graciosamente.
Naquela praça carbonizada e repleta de lixo outrora cresciam milhares de tulipas vermelhas, e eu sempre colhia uma para entregar a ela no percurso para sua casa; às vezes, durante nossos passeios, o vento fazia com que muitas pétalas bailassem no ar, e imitávamos seus movimentos até que caíssemos, zonzos, e trocávamos beijos sob o céu azulado de agosto.
E meu coração, outrora tão feliz e risonho, tornou-se um vácuo desprovido de emoções desde que ela se foi, e a única coisa que me resta é perambular por estas ruas desérticas procurando pelos fantasmas dos amores que se foram junto com ela... mas em vão.