Alucinações

Só porque eu vivo de fato dentro da minha mente, é onde a ação está. Lá tudo faz sentido, eu sonho dormindo e mantenho e dou continuidade às fantasias quando acordada.

Aqui dentro eu produzo, aqui dentro eu trabalho, aqui dentro eu me apaixono e mantenho vivas minhas paixões. Aqui dentro eu posso e faço e e sou tudo o que quero ser. Dentro da minha cabeça meu coração bate com tal intensidade que na realidade não aguentaria.

O mundo é podre e meu corpo não é diferente.

Ultimamente tenho me complicado, tenho tido dificuldade em manter separadas estas vidas paralelas e confundo minhas histórias.

O que posso classificar como verdade? Por que não simplesmente me entregar ao delírio, doa a quem doer? Quem é dona de mim, afinal? Por quem eu tenho tanto apego no mundo real? Por que eu tenho tanto apego ao mundo real? Nada aqui me contempla, nada aqui me agrada, o que então me segura?

Minto pra mim mesma na esperança (maldita) de me esquivar das respostas que de longe já conheço. Minha sobrinha, minha filha, meu bebê, meu sangue e minha carne. É por ela que eu fico. E só. É só, mas não é pouco.

A resposta não é necessariamente suficiente, ela tem outros. Servirei somente como exemplo para lhe desemcaminhar, desvirtuar o objeto-sujeito de minha devoção. É isso o que sou. Presa, escrava voluntária, crente de Iaiá, Diana caçadora. Minha salvação.

Talvez a loucura de minha irmã não fosse assim tão sem razão. O delírio me parece agora razoável, é a solução.

Roletas-russas não são para crianças, mas sempre fui irresponsável. Forçada a crescer muito cedo mantive resquícios ilusórios do tempo implacável que não perdoou meus defeitos. Aqui eu me perco. Eu sei onde posso me encontrar. Talvez seja essa meu único medo.

Montanhas-russas não são para crianças. De forma vertiginosa eu me percebo de pernas pro ar, é onde eu devo estar, é assim que vou me encontrar. Aflita. Despudorada. Amedrontada. Cheia de vento. Tempestuosa. Num copo d'água.

Chega! Eu me rendo.

Meus olhos permanecem secos.

Taís Gollo
Enviado por Taís Gollo em 07/10/2013
Reeditado em 07/10/2013
Código do texto: T4514556
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