Luz
O que houve com a geleira,
onde foi parar toda espessura mórbida e infértil?
outrora uma morada de adeus
uma terra desabitada e sem perfume
o que houve com o medo
espírito perdido que pairava em meu peito
onde se ocultou ou para onde partiu?
aquele habitante não humano que por anos me encarcerou?
hoje dentro de mim habita o sol
uma luz intensa que não me permite adormecer
preciso viver para usufruir desse dia
um dia eterno que não declina
hoje sei que o sol
além de iluminar as trevas
derreteu as geleiras
exterminou o medo
trouxe para dentro da minha cabana à beira mar
um habitante de feições humanas
que se assemelha ao Divino
para me recriar
Fazer novamente do pó
dessa vez acrescentou-me asas
dessa vez dotou-me de pudor
de leveza, de simplicidade,
este novo e tão antigo ser
um ex-estranho, adoçado com afeto
ensinou-me a despir-me
despir-me do que não importa
Fez-me vestir um verbo
fez-me declamar um projeto
fez-me exorcizar meus sonhos
e torná-los reais
hoje conjugo o amor
executo os alicerces
e levito como num sonho
caminhando à beira mar