O culto
Segredos... A quem contarei meus mais profundos segredos? Que amiga ou amigo seria digno de tão insana confiança, se nem em mim há tal dignidade?
Ah, segredos! Se meus olhos te revelassem - e revelam, sutilmente - , se ao menos percebessem, sairia um peso enorme de minha alma. Mas quão drásticas são as consequências do que sou, do que me tenho feito. E se revelá-los me custa o chão, então prefiro deitar-me neste solo gélido , cheio de incertezas, ponte no meio do meu abismo.
Minha alma é como um rio de água turva e parada, silencioso, assustador. Não sei se me escondo, ou se me afogo nele. Só sei que estou lá: turva, parada, meio morta, até.
Espero alguém límpido e corajoso o suficiente para mergulhar neste rio, e se esconder comigo, sem dor nem pudor.