Espelho, espelho meu...

Os olhos que olho no espelho me parecem menos vivos que ontem. Enquanto esfrego a pele de forma frenética e auto flagelante com a máquina de barbear na tentativa de bem escanhoar os espetos brancos, analiso os pormenores daquele rosto refletido no espelho cruel. Cruel e deslavado mentiroso. Dele eu demando o meu legítimo direito de recusar ser retratado de forma menos respeitosa e passei a exigir correção na exposição da minha cara que me é tão cara e me acompanha desde que nasci. Puz-me a fazer caretas pro miserável até cair na risada. ­­"É então assim, que se chega a doido!", concluí desgostoso, raspando os pêlos em torno das orelhas. Faço isso vezes sem conta, porque vivo apavorado de, ao deixar crescer a pelagem, amanhecer na pele de um qualquer animal felpudo. Termino o ritual com alguns borrifos de Polo - minha colonia preferida cujo cheiro há muito não experimento por me encontrar completamente anósmico. É assim...Todos os males chegam com a idade. Botei a língua pro espelho antes de sair e arrependi-me. Achei-a muito branca! Será que tenho alguma doença de vaca?!

Luis C Nelson
Enviado por Luis C Nelson em 03/10/2013
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