Casos e fardos
Minhas melhores poesias fiz do lamento
No esquife, encovada no esquálido fosso
Enquanto a trova para mim sorria
Fronte a fronte como facho no breu.
As rimas mais bonitas lancei aos ventos
No dorso de um corcel cor-da-noite
E dei a ele algures outro nome
Atribuindo afã suas feridas
E contos, à sua crina indomável
Espalhadas no galope fero de poesia.
Do mais puro, ao mais pútrido
Na mais profunda alcova estão;
Escorridos na chuva
Retorcidos de medo
Esgueirando pelos cantos.
Cingindo as estribeiras
Fardos não faltam para escórias
Rotineiros alaridos de açoite.
Exaurindo quantos lombos
À carregar um Calibã inteiro
O que foi alívio, hoje calvário.
A cólera nunca se foi.