Papel em Branco
papel em branco
por estar sempre sendo branco
está cheio, vasto de cio
fastio de espera
branco do mais puro tédio
e o que é tédio se não um desejo intrigado e desconsiderado?
esbranquiçado de nada pra fazer.
pálido e sem hálito, papel
seu hábito é um eterno encontro desmarcado
espera vazia, sem linha ou margem
do que possa parecer
se empalida em amarelo esperado
mas sem padecer
um lápis!
grito-papiro calado
na violência do lápis
goza palavras, curvas e vírgulas
papel traçado
dissolve-se em mim
que faço um papel,
um papel vazio
um negativo, uma imagem
eu-grafia vazia, em branco
mas sem deixar de deixar
essa cicatriz