Papel em Branco

papel em branco

por estar sempre sendo branco

está cheio, vasto de cio

fastio de espera

branco do mais puro tédio

e o que é tédio se não um desejo intrigado e desconsiderado?

esbranquiçado de nada pra fazer.

pálido e sem hálito, papel

seu hábito é um eterno encontro desmarcado

espera vazia, sem linha ou margem

do que possa parecer

se empalida em amarelo esperado

mas sem padecer

um lápis!

grito-papiro calado

na violência do lápis

goza palavras, curvas e vírgulas

papel traçado

dissolve-se em mim

que faço um papel,

um papel vazio

um negativo, uma imagem

eu-grafia vazia, em branco

mas sem deixar de deixar

essa cicatriz

Fernão Bertã
Enviado por Fernão Bertã em 01/10/2013
Reeditado em 01/10/2013
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