Outra Sorte

Do sudeste desce a água nas torneiras

Lavam tudo

Lavam corpos

Lavam almas

Lixos nos rios, nos córregos transbordam

Levam tudo

Levam corpos

Levam almas

Torrentes de desperdícios

Os rios que correm aqui em baixo

Não encontram forças para subir

Sobem secos

Ao nordeste água não vai

Não sai nas bicas

Cai de pipas

Grandes filas

Mirradas filhas esperando gotejar a água da seca vida

Quilômetros tropeçando com baldes nas mãos

O chão duro e seco bebe sedento as gotas que caem

O gado que morre

A plantação que seca

A vida que vai...

Tanta tecnologia aqui

Tanta solução para tudo

E não se acha consolo para o soluço seco que se espalha no sertão...

Hoje o sertão ainda é nordeste

Mas se o curso das decisões não mudar o rumo

A seca se espalhará de norte a sul secando as futuras gerações

São as nossas crianças de hoje que estarão lá amanhã.

*Cristina Cassão