Sentires
De repente um piano, um porto que engole a luz que vem da janela e se metamorfoseia lentamente em mim. Uma toalha de rendas na beira da janela se finge de cega enquanto anota todos os meus pensamentos que voam qual fumaça da mente que ao se livrar do peso voa cada vez mais alto.
_ Sofrível?
_ Não, acho que não. Talvez eu chamasse a isto um tipo de vicio prazeroso. Como prazerosos são todos os vícios. E o tempo passa de vagar...tão calmo, tão fresco e tão lentamente arrasta a lua e adentra minha tarde. Que pena...
Um amuleto pendurado na varanda tilinta sua musica e pensa ser ele um soprano famoso, quem sabe o é mesmo, quem sabe dos anjos que rodeiam seus ventos e os sonhos que ele guarda e solta.
Lá em baixo, na rua, ouço as ladainhas da passeata de São Jorge e os cochichos nada santos das senhoras de véus furados. Penso por uns instantes nesta religiosidade que caminha por vielas muitas vezes sem saídas, mas estes pensamentos são levados rapidamente. Sento novamente com meu companheiro branco e respiro profundamente...é, esta minha mania de pensar demais ainda me levará a loucura, bem, ou a cura dela, sei lá. Um gole no vermelho iluminado que já começa a anoitecer. Olho as linhas já escritas só de relance, não tenho paciência de revisitar viagens minhas. Guardo-as na caixa do livro número 15, fecho as janelas, apago as luzes de casa e saio para ver estrelas.
Márcia Poesia de Sá - 2013