VIANDANTES INCERTOS
Sempre digo – meio sem graça – que escrevo para os olhos do outro. E, coerentemente, quando do apossamento pelo receptor, adoro a cobiça sobre o objeto lírico posto ao alcance. Assim, está cumprida a destinação da peça. E é esta possessão (de terceiro) que faz o poema saltar da palavra e adensar-se para o mundo, corporificado, muito além da mancha impressa sobre o papel. Ou, no lazer de hoje, sobre o ocioso monitor de novidades da net... Nós e a eventual poesia haurida somos viandantes sem destino certo à procura de “pouso”. Dilúvio ou escassez de águas e suas cegas incertezas de pousadas e remansos? Enfim, o que sobreviverá no andar solitário?
– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4491475