Dançando na lua
Cada dia é como uma nova música tua a invadir o meu quarto. Cada entrada é como pombas voando nesta sala. Tudo é tão branco agora. Mas o que deveria ser tudo agora?
Cada beijo dela em teu rosto é como uma nova foto a ocupar os meus quadros. Cada abraço é como o movimento dos astros. É como a gravidade que encontraríamos na lua. Tudo viraria dança agora. Vocês dançariam agora.
Cada caminhada nessa superfície empoeirada levanta um dia cinza no início de março. Cada passo perdido vira passo de dança. Cada gesto hesitante vira valsa. Meu par chegará agora. E dançaremos na lua a partir de agora.
Teus braços na cintura dela. Minhas mãos buscando as tuas. Os pés dela em direção ao corpo dele. Os olhos dele derramando as lágrimas da única que não sabe voar.
Às vezes, tudo começa com uma dança. Às vezes, eu percebo, em cada olhar que ela arrisca, que tudo se trata apenas de uma dança.
Lá embaixo, as pessoas falam, deixam a TV ligada, fecham as janelas. Não vejo a terra, mas sinto os braços dela ao redor do pescoço dele. Vejo os braços dela, como pássaros, alcançarem o céu. Tocando a lua. Mas ela é a única que não pode voar. Então fica.
Mas você a busca, erguendo-a. Vocês avançam por entre as estrelas, alcançando a lua. Alcançando-nos. Tudo se trata de uma dança. E de lágrimas caindo. E de passos errados. E de músicas tristes. E de domingos de sol. E de camas de solteiro.
Eu puxo o cobertor. E durmo. Enquanto ela permanece acordada. Cantando.
Os outros continuam dançando. E eu durmo.
Continuarei escrevendo esses versos – se você dorme.