Pouco tempo.

Uma carinha triste que me olhava cansada, enfadada de um dia de trabalhado, pedi sua bolsa para levar:

- A bolsa?

Me entregou sem falar nada.

Distraída, lendo, não reparei que me olhava com um sorriso tímido nos olhos e eu também a olhava no mesmo ritmo. Quase uma hora no mesmo espaço, a menos de um metro de distância, mas a vidas de se encontrar.

Voltava-me ao livro e ela acompanhava a minha leitura atentamente, ficava imaginando o que estava passando pela sua cabeça, tentando talvez decifrar a minha profissão, o que eu estudo, do que eu gosto apenas pelas linhas que me acompanhavam.

Com sono, hora fechava os olhos, mas logo alertava-me e sempre pegava a faísca de sorriso a me olhar.

Finalmente a viagem chega ao fim, entrego-lhe a bolsa com sutil delicadeza, e ela agradece:

- Brigado.

E aquele sorriso deixou de ser tímido, ele quase me falava alguma coisa, mesmo assim exitei em agir no momento.

Desci pensando no que fazer vendo ela sair do meu campo de visão, pensei, pensei, cogitei possibilidades do que pode ser ou não pode ser.

Enfim, já não a vejo mais, decido que vou "resolver", dou voltas e nada de acha-la, logo me culpo por deixar passar. Mas quando volto ao meu lugar e olho para trás, está lá o sorriso, vou até lá -mesmo sem ter ideia do que fazer-, e falo qualquer coisa:

- Você é linda, sabia?

E ela com olhar ainda sorridente, mas agora meio confuso, me fala:

- Não te esperei porque não sorriu pra mim.

Assustada com a resposta, mas convicta, esclareço:

- Acho que fiz melhor.

B C
Enviado por B C em 19/09/2013
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