DESAPEGO
A vida se esvai como a areia numa ampulheta cósmica!
Os fios, os laços... se desfazem com a facilidade da poeira no redemoinho...
Meus cabelos se foram, mas minha cabeça está aqui, ainda!
Alguém me questiona: “___Como pôde se desfazer daquela cabeleira? Não consigo lhe ver sem ela!”
Meu sorriso é límpido como o sorriso de minha mãe: “___Os cabelos pesam como um fardo... preciso aliviar minha mochila, assim caminharei mais rápido... dormirei mais tranquila!”
Amanhã? Estarei...
“CAMINHANDO E CANTANDO...
... e seguindo a canção...”
Trecho de uma música que eu amo demais...
Canção da época em que eu tinha acnes...
mas já então pensava como um ancião,
posto que fui submetida a uma disciplina de caserna...
desde tenros quatro anos de idade!
Hoje, anciã cronológica/télurica ainda amo os seres
que caminham e cantam seguindo a canção...
sem bagagens que lhes atrapalhe o livre ir e vir...
Há alguns dias chamo meus amigos...
os queridos do meu coração... irmãos...
amados, partes da minha Alma Imortal...
que habitam outros corpos, dando-me a possibilidade ímpar
de desfrutar a beleza do Amor em sua quintessência...
Busco, lanterna em punho, ouvido apurado...
ouvir o som inconfundível dos guizos
das patas que marcam a neve...
as asas de seda cortando os ares...
Aprendi, a duras penas que devo ficar em total silêncio...
até onde esse meu louco e irrequieto coração aguentar.
Só a partir desse limite, posso recomeçar minha busca
dividindo-a em quatro etapas:
1 – Mentalizar.
2 - “Ouvir”.
3 - “Falar”.
4 – Aquietar.
Quando o elo é verdadeiro, por isso mesmo forte,
o outro me ouve e responde, numa dessas etapas...
Quando nada ouço, retomo meu silêncio e procuro serenar meu coração
olhando-me nas duas faces do espelho e
optando por estar além da névoa...
Não mais aguardo ouvir a voz...
eis que a partir daí eu sou a voz que chama,
a Alma Imortal que busca...
mas sou também aquele que ouve e responde,
assim como sou aquele que retorna e abraça...
sei que o que há entre nós é forte e indissolúvel,
porquanto a distância física e o silêncio não conseguem apagar,
sequer diminuir, o Amor e o Respeito que sinto por Ti!
Sê bem vindo e bendito sejas luminoso guerreiro...
por onde passas deixas um rastro de fecunda e alegre amizade!
Amo-te
... e que fique bem claro: Amar-te só me enriquece, sempre!
(Maceió/AL, 2006)