Cotidiano da cidade [um aspecto do umbral]

Com o dia amanhecido, caminhava para o trabalho. Na rua ouço o canto do quero-quero. O interior exclamou uma interrogação concreta. Afastei a miopia e avistei o quero-quero pousado no telhado do Hotel. Fiquei meditando poeticamente sobre a cena. Ele cantava para os hospedes, pensei, será? Meu interior voltava-se para os gramados da infância, onde o quero-quero dançava sua cantoria em voos rasantes pelas pastagens...

Num lapso, deparo-me com carros estacionados sobre a calçada (dos dois lados da rua). Caminho pela rua, quando um carro que estava estacionado na calçada invade a rua e buzina. Dou passagem. O carro estaciona ao meu lado, abre o vidro e ouço uma interrogação um tanto provocativa. – Não estou entendendo?! Ele não entendia porque eu estava andando no meio da rua. Voltei minha meditação sobre o quero-quero.