Do desespero

foi quando eu saí do bar, bêbado às tampas

e cambaleei até a porta do seu prédio

tentei tocar o interfone, mas não lembrava o apê

esmurrei a porta, fiz escândalo

chorei no elevador

do térreo ao sétimo andar

no corredor vi sua porta

com o símbolo yin-yang de sempre

no espelhinho pra espantar mau olhado

eu vi meu reflexo

os olhos fundos

num óculos quebrado

o rosto inchado

e a barba sem fazer

lembrei da cópia da chave

abri devagar, mas tropecei na soleira

te vi saindo do corredor, ainda ajeitando a camisola

me olhou sem entender direito

"o que foi?", você disse

eu caí de joelho bem na sua frente

olhei tua cara de sono e gritei

a fala pastosa e a voz embargada

"pega o que sobrou de mim

e tenta juntar com o pedaço que você levou!"