Gavetas

Guardadas no fundo,

escuro,

no canto,

em segredo;

para ninguém olhar o que se esconde.

Caixa enfeitada,

anéis dourados, pra que?

Se os maiores tesouros são

escritos à mão.

São pedaços de mim,

retorcidos

calados,

restos de poesias dissipadas

em papeis velhos

com letras embriagadas;

contos que já sei de cor.

Mandam-me queimar,

mas seria o mesmo

que atirar-me numa fogueira.

Pois sou tudo o que escrevo,

linhas amargas

tudo que vejo, e declamo -declaro-.

Em silêncio

Mas tranco tudo numa gaveta

e me amarro em versos,

amarro em pedaços de mim mesma

para juntar-me

para colar de volta.

Prendo amores, em rimas.

para que não fugas

e fique bem longe

dos olhares agourentos,

basta meu poço de azar

e fique bem longe de quem

desate meus laços

bem longe de quem lê o que faço

para manter-me na sanidade.

A gaveta é purgatório, e paraíso

e o mar, seus olhos.

No final de cada verso

alguém chora.

Por vezes quis que meus cantos

fossem alegres

mas nas gavetas, não há mais cantos

que se encarreguem.

Exorcista
Enviado por Exorcista em 13/09/2013
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