ABRINDO ESPAÇOS

Ontem, decidi fazer algumas arrumações.

Comecei por arrastar os móveis e vi o quarto vazio, empoeirado com as marcas da ausência.Varri, limpei e reorganizei a disposição.

A cama, dispus em frente a janela, de maneira que o sol pudesse aquecê-la.

As cortinas pesadas e escuras, substituí por um tecido mais leve e colorido para que o vento pudesse circular com mais alegria.

Enfim, chegou o momento dos armários. Gavetas repletas de roupas tristes, despejei. Escaninhos cheios de papéis rotos, boletos ultrapassados, bilhetes com declarações vencidas, descartei.

Na sapateira...Ah! Sapatos que já não me levavam a lugar algum, foram dispensados.

Ao final, amontoei tudo num canto e fitei...por um bom tempo, como a me despedir.

Me desfiz de um passado que, um dia foi útil, sim, mas que hoje me aperta e me aparta do presente.

Concluída a missão, confesso ter sentido um vazio enorme, um estranhamento, um desconforto...Mas era só o primeiro dia, pensei. Hei de me acostumar.

Lá no fundo, pude ouvir perfeitamente um vento leve sussurrando assim: agora sim, há espaços para novidades.

- Lena Ferreira -