CASTELO DE SAL

Sinto um leve sabor de sal aos meus lábios, sal, um doce sabor de mar.
Tento identificar o som que tanto gosto e não consigo, busco pelo aroma peculiar, mas ele não vem, ainda de olhos fechados o que não me permite usar este sentido, a deliciosa impressão inicial de estar saboreando o entardecer em frente ao mar cada vez mais se distância de mim.

Aos poucos as sensações vão se ajustando, o leve calor que aquece meu corpo não tem a ver com raios de sol acariciando minha pele, o som que estava a ouvir muito menos era o ribombar leve de pequenas ondas na praia, que nos desliga deste plano e nos fazem viajar em pensamento, aquele aroma de mar tão vivo na memória e tão difícil de descrever que emana da soma dos elementos também se dissipa rapidamente e desmorona como um castelo de areia, sal e sonhos.

Então, a fria lamina da realidade me toca e corta o elo imaginário que me embalava, todos os sentimentos despertados anteriormente pelas emoções que se juntam a gostosa fantasia se vão de uma única vez, os sentidos a se clarear, percebo que o calor não passava de uma coberta embolada sobre o corpo cansado, o cheiro é de ar saturado pelo suor em um pequeno quarto o som que insistentemente queria identificar era apenas de um coração batendo de forma descompassada, acelerado e sem descanso, e do doce sabor de mar e da imaginação, restam apenas às lágrimas que levam um leve sabor de sal aos meus lábios.