Cantada na rua
Ela sentou-se ao meu lado no banco da praça
Pediu-me um cigarro, fogo...
Não nego, eu fiquei desconfiado
Comentou sua luta atrás de emprego
Falou de sua vida, de filhos... Escutei
Mas, diga-se de passagem,
Foi porque perguntei
Contou-me de um cara que a visitava
Que lhe dava presentes, mas não demorava
Que aquelas ajudas eram insuficientes
Por isso andava feito uma indigente
Cá com meus botões eu imaginava
Até que ela não estava assim, tão maltratada
Olhando direito,
Na parte entre o queixo e a sua cintura,
Tinha certo par que era uma pintura
Que a generosidade de um decote de malha
Expunha à vontade, estava na cara!
Sua voz de fundo falava em emprego
Falta de dinheiro, angústias e medo
E eu dei uma trégua para os meus escrúpulos
Ouvindo as palavras e olhando seu busto
Ela percebeu meu olhar indiscreto
Olhou para o tempo e chegou pra mais perto
Às cinco da tarde eu tinha um compromisso
Que me afastaria de correr “algum risco”
Declinei do convite em diálogo mudo
Contrário ao apetite, Eu usei meu escudo
Uns dias mais tarde... Passando na rua...
Ela estava lá, a beber num bar
Em meio à colegas sorrindo animada
Dava pra imaginar como seria a noitada
Mas nada desmente uma situação
De alguém carente...
De grana e no coração.